Lady Blackbird, o novo rpg do Brasil, entenda como funciona

Hoje li uma notícia que me deixou muito feliz. Um dos sistemas que mais gostei de ter mestrado em toda minha curta vida de rpgista vai ganhar uma versão nacional. Lady Blackbird. Este rpg é incrível, o sistema é simples e equilibrado, extremamente bem feito. E o melhor de tudo: É GRATUITO!

A Editora Redbox para comemorar o seu aniversário de 1 ano irá lançar a versão nacional do fantástico Lady Blackbird (confira a notícia aqui). Para comemorar essa notícia maravilhosa decidi fazer um resumo rápido sobre como o sistema funciona.

Por que Lady Blackbird?

A premissa do cenário e da aventura é o seguinte: A Lady Blackbird é uma nobre imperial com o casamento arranjado. Ela não ama seu noivo e contrata um bando de contrabandistas, The Owl, para levá-la para além dos domínios imperiais para que ela possa se encontrar com seu amante secreto, o rei pirata Uriah Flint.

No meio do caminho, The Owl é capturado pelo cruzador Imperial Hands of Sorrow. Lady Blackbird, Naomi Bishop (sua guarda-costas) e a tripulação da nave contrabandista são detidos enquanto o comandante do cruzador checa os registros de todos. É uma questão de tempo até que descubram o que está acontecendo, além do que o capitão do The Owl é o famoso pirata Cyris Vence.

Será que a Lady Blackbird e a tripulação do The Owl irão escapar? Eles irão encontrar o covil secreto do rei pirata? Uriah Flint irá aceitar a Lady Blackbird como sua esposa? Que outros perigos aguardam nos confins Wild Blue?

O Cenário

O Wild Blue é um sistema solar em que pequenos mundos orbitam uma estrela fria que exala gases respiráveis, portanto uma pessoa comum pode sobreviver no espaço aqui. Acadêmicos teorizam que a estrela seria formada por pura energia mística, a mesma utilizada pelos magos do cenário. Os mundos imperiais são muito próximos, de modo que é possível viajar entre eles em poucos dias. Os planetas fora do Império são os mais distantes, a uma semana de viagem.

Abaixo do Wild Blue temos as Lower Depths, um mar de gases venenosos e corrosivos, as naves que entram ali são inevitavelmente danificadas, esse "mar" venenoso também é povoado pelas terríveis Sky Squids (lulas espaciais).

O cenário do rpg Lady Blackbird.

Quanto a tecnologia, o cenário visualmente é Steampunk e realmente existem maquinários desse tipo. Mas é praticamente um híbrido em que tecnologias a vapor e outras mais avançadas convivem pacificamente.

O Sistema

Este rpg é tão simples que em cada ficha de personagem existe um espaço com todas as regras do sistema. Não acredita? A imagem da ficha não me deixa mentir.

Sistema simples não?!

Como a ficha mostra as características dos personagens são: Traits, Keys, Secrets e Conditions. Vou explicar brevemente cada um deles.

Traits (Traços ou Características dos personagens): estes atributos dizem que o personagem sabe fazer. São bem amplos, como: Nobre Imperial, Mestre Feiticeira, Atleta, etc. Cada um tem suas Tags (Marcadores) que detalham essas características. Como a Lady Blackbird e a característica Nobre Imperial que possui as tags: Etiqueta, Dança, Ciência, Família Blackbird, etc.

Keys (Chaves): Estas características tem uma forte influência na narrativa e dizem mais sobre quem é o seu personagem. Por exemplo a Key of Paragon da Lady Blackbird. Ela define a personagem como nobre, ela sente que não é uma pessoa comum, é superior as outras pessoas, portanto não se comporta como uma pessoa comum.

Secrets (Segredos): São as habilidades especiais dos personagens. São únicas e seus efeitos são bem diversificados. Muitas vezes permitindo realizar coisas impossíveis para uma pessoa normal, ou re-rolar uma jogada de dados em que tenha falhado. Outras concedem "Tags" adicionais. Por exemplo, a Lady Blackbird possui o Segredo do Stormblood - Permite a personagem usar magias uma vez que possa falar, além de lhe conceder o "Trait" Master Sorcerer junto com a "Tag" Stormblood.

Conditions (Condições): São os status do personagem. Toda vez que o jogador falha num teste, o mestre lhe impõe uma condição. São elas: Ferido, Morto, Cansado, Irritado, Perdido, Caçado e Capturado. Exceto pela condição "Morto", as outras voltam ao normal uma vez que o personagem saia daquele situação.

Basicamente você só precisa rolar dados se a situação exigir, como numa cena de combate ou para realizar um feito que pessoas normais não conseguiriam normalmente.

Quando for necessário rolar os dados, o seu personagem tem direito a um d6 (dado de seis lados), adiciona-se mais um dado caso você tenha algum “Trait” que seja útil para a situação. Se esse “Trait” tiver uma ou mais “Tags” relacionadas a situação, adicione mais um dado para cada “Tag”. 

E finalmente, todo personagem começa com uma reserva (Pool, no original) de 7 dados que podem ser adicionados à suas rolagens. Você pode adicionar quantos dados quiser dessa reserva. Um personagem também pode receber auxílio dos seus companheiros, eles cedem um dado de sua reserva para ser adicionado a rolagem do jogador auxiliado. 

Geralmente um resultado 4 ou maior nos dados indica um sucesso. Mas existem outros níveis de dificuldade, a saber:

Níveis de Dificuldade: 2 – Fácil; 3 – Difícil; 4 – Desafiador; 5 – Extremo.

Em caso de sucesso: você descarta todos os dados rolados, inclusive os da reserva. Mas não se preocupe, você vai ganhar vários outros durante a aventura.

Em caso de falha: Você mantém os dados da reserva que tenha adicionado a sua rolagem e adiciona mais 1 à ela. O Mestre determinará quando você irá poder realizar o teste novamente.

O sistema todo me deixou impressionado, mas 2 de suas características chamaram muito minha atenção, as Keys e o a evolução do personagem.

As Keys precisam ser ativadas (no original, hit the key), quando isso acontece ela te beneficia com dessas duas vantagens:

• O personagem ganha 1 ponto de experiência (XP).
• Adiciona um dado a sua reserva (que pode ter no máximo 10 dados).

Se a Key coloca o personagem em perigo, este ganha 2 XP ou 2 dados ou 1 XP e 1 dado. Quando o personagem acumula 5 XP ele pode evoluir, ou avançar (como no original). A evolução, ou avanço, fornece um dos seguintes benefícios:

• Adiciona um “Trait” (baseado em algo que o personagem tenha aprendido, ou em alguma lembrança que tenha sido desperta, durante a aventura).
• Adiciona uma “Tag” a um “Trait” existente.
• Adiciona uma nova "Key" (você não pode ter a mesma Key várias vezes).
• Aprende um “Secret” (caso você tenha meios para isso).

Você pode inclusive guardar os Avanços que conquistou durante as aventuras e gastá-los da maneira que quiser, no momento que quiser da partida (inclusive durante o combate).

Cada “Key” tem um “buyoff”, uma condição que se ocorrer te dá a opção de removê-la da ficha. Por exemplo: A Key of the Paragon, caso o personagem desonre sua herança familiar, pode desistir dessa característica. E caso você remova uma "Key" do seu personagem, não poderá mais compra-la. Mas em compensação ganha 2 avanços. 

Entenderam porque me impressionei?

O Mestre

O capítulo reservado ao mestre é muito interessante, os autores dizem que não é necessário preparação prévia. O narrador só precisa criar uma situação inicial, a aventura se desenrola através da máxima: Escute e Faça Perguntas, em que o mestre pergunta aos jogadores como os seus personagens reagem diante daquela situação. A partir das respostas a aventura vai acontecendo e o mestre alimentando esse ciclo. Obstáculos podem surgir a partir dos fracassos dos personagens ou podem ser incluídos na aventura sempre que o mestre achar necessário. O Mestre nunca precisará rolar um dado.

Mas e os monstros, os NPCs, os vilões? Não precisam de ficha nem nada disso?

Não. Monstros, NPCs e tudo mais são representados por algo que o sistema chama de Obstáculos. O mestre não precisa criar fichas, tabelas de dificuldades de perícias, armadilhas, venenos, nada disso! 

Por exemplo, para você atacar o Pirata Uriah Flint trespassando suas defesas mágicas precisa vencer uma dificuldade de nível 5. Cada vez que essa dificuldade é vencida, o pirata recebe uma condição, e por aí vai até ele ser derrotado.

Lógico que o sistema é mais do que isso, mas essa postagem já está muito grande. Ela só serve para deixar meus queridos leitores com mais vontade ainda de conhecer o Lady Blackbird.

Concluindo

O sistema não apenas me cativou muito como também todos aqueles que participaram da sessão. Após a partida os jogadores pediram para eu adaptar o cenário de Tormenta D20 (na época não era ainda o TRPG) para o sistema do Lady Blackbird. Eles acharam o sistema muito ágil, simples e equilibrado, adoraram o foco na narração atrelado a evolução dos personagens.

Não pensem que o sistema todo está resumido as fichas apenas, no arquivo original ao final da parte do mestre existem outras "Keys", "Secrets" e "Tags" para serem utilizadas. Além disso, é fácil perceber como se constrói um personagem observando as fichas existentes. E não é tão difícil de criar suas próprias "Keys", e etc. Para inspirar você, existem muitos grupos de fãs que expandem o sistema, por exemplo: 

• Darkening Skies: que trás novas "Keys", "Secrets" e "Tags" para o cenário Wild Blue. Além de ensinar como criar as suas próprias (link aqui). 
• O Mighty Atom: em que os fãs adaptam outras ambientações para o sistema (link aqui). Como Star Wars!

Não obstante, a One.Seven tem outros jogos legais em seu site (link aqui), todos gratuitos! 

Então é isso, o pessoal da Redbox está de parabéns por trazer esse título incrível para o Brasil, espero que isso motive muita gente a desenvolver para ele ou inspire novos sistemas e jogos. 

Se quiser uma descrição mais detalhada ainda sobre o sistema, na realidade um dossiê, visite o blog O RPGista (antigo .20) em que o Shido Vicious faz uma análise completa sobre o Lady Blackbird (link aqui). Foi lá que descobri esse jogo espetacular. 

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