segunda-feira, abril 16, 2012

Desconstruindo e Reconstruindo a Mulher Maravilha com Brian Azzarello



Eu já falei sobre a primeira edição da Mulher Maravilha pelo Brian Azzarello aqui, atualmente está para ser publicada a 8ª edição dessa nova revista e muita coisa mudou na personagem. Hoje vou falar sobre a ousadia do Azzarello ao desconstruir esse ícone feminino do mundo dos quadrinhos.

Já na primeira edição o Azzarello mostrou qual era sua intenção para com a Mulher Maravilha. Fazer com que a mitologia grega fosse mais presente nas estórias da personagem. 


Então eu, e acho que muita gente, pensou que ele fosse apenas criar novos vilões baseado nos mitos gregos. Fazer com que um ou outro deus aparecesse no decorrer das edições. Mais ou menos como o Thor da Marvel. 

Porém o Azzarello surpreendeu e conseguiu algo muito melhor do que eu esperava. Tanto que acho que se os diálogos fossem um pouco mais pesados, o nome da personagem fosse outro, a nova Mulher Maravilha se encaixaria muito bem na linha Vertigo da DC. 


A Mulher Maravilha antes do Azzarello

Nunca tinha lido nada exclusivo da Mulher Maravilha até a minha queridíssima Andhora Silveira me apresentar a publicação DC 70 Anos Vol. 3 - As Maiores Histórias da Mulher Maravilha. Foram selecionadas para essa edição comemorativa 10 histórias icônicas da personagem que ocorriam em momentos diferentes da vida dela. Desde as primeiras histórias publicadas até algumas bem recentes. Lendo essa publicação, deu para ter uma noção geral de como os roteiristas, desde o seu criador, enxergavam a personagem. E a conclusão a que cheguei foi que a Mulher Maravilha nunca foi levada a sério, nem pelo seu criador.

Os roteiristas que passaram por essa publicação, existem exceções, praticamente reproduziam as mesmas estórias dos outros super heróis da época, não aproveitando o potencial da Mulher Maravilha. Além de não trata-la com o mesmo respeito que tratavam o Superman e o Batman, por exemplo. Perceba que enquanto o Superman, Batman, Shazam, Lanterna Verde, entre outros, tem estórias marcantes como Pelo Amanhã, O Cavaleiro das Trevas, Sem Medo, etc, a Mulher Maravilha não possui nada relevante. 



Alguns autores tentaram fazer o mesmo com a Mulher Maravilha mas creio que por ela já estar estigmatizada acabou não tendo o mesmo impacto das estórias de outros personagens. Fora que a mitologia grega, exceto pela origem da personagem e pouquíssimos vilões, sempre passou longe da maioria das publicações da personagem.


A Mulher Maravilha hoje

O Azzarello diferente do que eu pensei que ele faria, trouxe a essência da mitologia grega para o universo da personagem. Toda a inescrupulosidade, intervenção divina, desprezo pela humanidade, egoísmo, mentira, e tantas outras características que tornam este mitos cativantes, fazem parte das estórias da Mulher Maravilha. 

Este roteirista foi ousado, praticamente desconstruiu e reconstruiu a personagem desde sua origem, mudou coisas que nenhum autor tinha pensando em mudar. Tornando todo o mundo habitado por Diana, mas crível, cruel e sombrio. 

Para poder colocar toda essa carga de mitologia na personagem foi necessário que ele começasse as estórias de Diana, apresentando-a novamente aos leitores derrubando os pilares que sustentavam o mito da heroína. Por exemplo: 

Obs.: Se não quiser spoilers, não leia os tópicos abaixo.

  • Diana não é uma mortal criada do barro. É filha de Zeus com Hipólita. 
  • As amazonas "não brotam de árvores", elas precisam de homens para se reproduzir e de tempos em tempos saem em caça. 
  • Não nascem apenas mulheres na Ilha Paraíso, nascem homens também, mas estes são "sacrificados".
  • Hera, odeia todos os filhos bastardos de Zeus. Inclusive Diana, após descobrir quem ela é. 
  • Os deuses gregos usam a humanidade como marionetes. Principalmente Ares, Apolo, Eros e Hera.
  • Espadas, lanças, arcos e flechas, fazem parte do arsenal da Mulher Maravilha, não só o laço.
Creio que dê para sentir a mudança no universo da personagem a partir dessa citação. Mas vou tentar fazer melhor explicando alguns dos tópicos acima. Os que eu achei mais interessantes. 

O ritual de reprodução das amazonas. Como sabem só existem mulheres na Ilha Paraíso e antigamente elas meio que engravidavam magicamente e todos bebês eram mulheres. Agora a cada 33 anos elas atraem marinheiros para as proximidades da ilha e passam toda a noite acasalando com os "felizardos", ao amanhecer todos os homens são mortos. Quando nascem homens na Ilha Paraíso, eles são trocados por armas com Hefestos, as amazonas tem o domínio da forja mas as armas do deus são de qualidade insuperável. 

O ritual de acasalamento das amazonas.
Hefestos e a trocas dos bebês por armas.
Ares atualmente reside na África, na forma de um andarilho solitário, por isso o continente vive em constantes conflitos. Apolo, não vê problemas em sacrificar humanas para realizar alguns rituais para ver o futuro ou localizar pessoas. Eros, vive de fazer humanos se apaixonarem louca e obsessivamente só para se divertir. Hera sai por aí caçando e matando todos os filhos de Zeus. Inclusive se vingando de Hipólita por ter cedido as conversas do líder do Olimpo. 

Ares, muito legal não?!

Percebem como o Azzarello transformou o mundo da personagem? Alterando desde a sua origem até as relações dos deuses com Diana? 

A caracterização dos deuses também e agradaram muito. Aliás, penso que deveria ser assim em toda história em quadrinhos que retrata algum tipo de divindade. Nunca gostei de como os deuses são mostrados  nas histórias do Thor. Não consigo imaginar divindades usando uniforme colantes. O Cliff Chiang deu uma caracterização moderna sem cair nessa onde de colantes. E isso também me agradou, principalmente Hera, Poseidon, Hefestos e Eros. Aliás a arte do Chiang é espetacular! 

Eros, o cupido!
Hera, como deve ser.
Poseidon, o deus do oceano e sua nova caracterização.
Apollo, no melhor estilo gringo-turista.



Concluindo

A Mulher Maravilha deixou de ser apenas mais uma heroína, o Azzarello está tratando ela com muito respeito e maturidade. As estórias dela não estão nada infantis, o misticismo está impregnado nas páginas da revista. Não tem como ler esta publicação sem lembrar das tragédias gregas que tanto lemos a respeito. 
Enfim, se você não gostava das estórias da personagem antigamente provavelmente vai gostar das atuais. Estão totalmente diferentes e dignas até de participar da linha Vertigo caso a DC quisesse. E não faria feio diante de títulos como Sandman, Fábulas, e tantos outros. 
Sinceramente o único receio que tenho é que um dia o Azzarello tenha que sair do título e essa fase seja jogada no limbo. Caso isso aconteça, pelo menos teremos essa preciosidade em nossas coleções para lembrar que um dia alguém fez algo digno com esta personagem. No mais, espero muito que essa série seja publicada no Brasil. 

Ah, não posso esquecer que o blog da Andhora Silveira (clique aqui) (uma das maiores fãs da Mulher Maravilha que eu conheço) resenha regularmente as edições dessa nova saga. Então passem por lá para ter mais detalhes sobre essa revista. 

3 comentários:

* Andhora Silveira * disse...

Primeiro, muito obrigada por me citar no seu blog! :D é um honra.

Você conseguiu sintetizar muito bem grande parte dos elementos que compõem essa atual fase da HQ da Mulher-maravilha, e interpretou muito bem o que Brian Azarello quer nos passar: Uma nova Mulher-maravilha. A reconstrução da história da Mulher-maravilha, feita de maneira inteligente e com muito cuidado, nas mãos desse escritor fantástico e de todos os outros envolvidos na concepção dessa HQ.

* Andhora Silveira * disse...

Corrigindo: Azzarello*


:D

Bob Mota disse...

Honra é ter você comentando aqui! Realmente o Azzarello se superou nesta hq. Espero que ele fique nela por muuuuiiiitttooo tempo e que se um dia mudar, que respeitem e utilizem tudo o que ele criou!

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